9.12.16

9 de DEZEMBRO de 2016 I VÂNIA KOSTA

VÂNIA KOSTA
ARTES PLÁSTICAS
Livro-Semente [em viagem pelo Japão]



 Podemos semear de tantas formas. E as sementes podem ligar pessoas, lugares, memórias, formas de ser e de sentir. Eu continua a semear. Semeando a terra que há me mim, construo a minha casa todos os dias. E nela podem viver também tantos lugares e pessoas.

 Para o outro lado do mundo levei comigo algumas das minhas sementes. Em Setembro deste ano, criei este Livro-Semente. Ainda em Setembro, mas já muito próximo do equinócio do Outono, tinha uma viagem marcada com destino ao país do sol nascente, o Japão. No início perguntava se neste livro caberia muito do meu universo artístico. Nele caberá aliás, ainda muito mais. Estão por nascer mais folhas com alguns dos apontamentos e dos fios que me ligaram de forma extraordinária àquele lugar. E quantas novas páginas neste livro podem ainda se transformar, mesmo que de uma forma invisível, com tantos outros lugares e pessoas. O quanto pode existir dentro de um simples Livro-Semente. 

 Longe, nesse lugar, fui reencontrar o olhar novo. O deslumbramento pelo que me rodeava. Os sentidos despertos. O deixar-me guiar pela intuição. O saber receber o inesperado. Como o inesperado pode ser tão extraordinário. E tudo de maravilhoso pode acontecer. 

 O regressar. E quantas viagens já fiz também aqui no meu estúdio, ao pedal da minha querida OLIVA, à velocidade de um gesto à mão. Viagens sem sair do lugar. 

 O meu trabalho não se define num espaço e num tempo específico da minha vida, ele é a minha vida, e tudo nela faz parte. E se com as minhas mãos materializo o meu universo artístico num suporte que outros possam ver e sentir, com elas continuo a semear de diversas formas, de tantas formas visíveis e invisíveis. Neste Livro-Semente existe muito de mim, muito do meu universo plástico. Por representar a minha obra em continua investigação e descoberta, cada página é como uma pequena semente. E quantas sincronicidades podem existir. O encontrar fios que ligam o que o coração sente mesmo que o simples olhar e as mãos nem sempre consigam tocar. E este gesto de semear aconteceu nesta viagem, mas fui igualmente surpreendida com sementes encontradas no caminho. Sementes deixadas para quem as quisesse encontrar. Quantas sementes inesperadas. O deslumbramento que me fez sentir parte de algo verdadeiramente extraordinário. Mesmo que não encontre as palavras certas para descrever tudo isso, partilho aqui algumas imagens e quiçá com elas possa transmitir essa essência.


LEGENDA.  
Semente - Montanha [este foi o primeiro achado. Encontrei este fragmento de Montanha em MIYAJIMA, na areia junto à Porta O-Torii.  e quando olhava-a de novo, reencontrei-a na linha do horizonte]



LEGENDA.
Semente - Árvore [encontrei este fragmento de Árvore na Montanha, numa caminhada entre as aldeias de KURAMA e KIFUNE]


LEGENDA.
Semente - Pássaro [escutei o seu cantar e fui ao seu encontro, algures no Parque Natural de NIKKO]


LEGENDA.
Semente - Pássaro [da minha viagem à Índia em 2012, trouxe de VARANASI, este pássaro de madeira às pintas. Nesta viagem ao Japão, levei-o numa página deste Livro (imagem em baixo) e reencontrei-o numa montanha no Parque Natural de NIKKO (imagem em cima). Nesta mesma imagem em baixo, captada em NARA, dentro de uma Casa feita de retalhos de pano, de um Artista Japonês, integrado num Festival de Arte, não pude deixar de encontrar tantas outras ligações. Através desse espelho, que viajou também neste livro, eis reflectiva essa Casa de retalhos]


LEGENDA.
Semente - Botão [nesse mesmo Festival de Arte, em NARA, reencontrei esta Semente. Curiosamente entrei numa casa onde estava uma instalação com cerca de 6000 botões, do mesmo Artista Japonês, que criara a casa de retalhos em tecido. Eis outro elemento comum]



LEGENDA.
em cima - Uma menina de pano, feita por mim, e uma pomba branca, junto ao Monumento de Homenagem a Sadako Sasaki e os seus 1000 Tsurus, no Parque do Memorial da Paz, em HIROSHIMA [esta pomba branca passeou muito na minha cabeça quando criança]
em baixo - Folhas. No Japão encontrei o Outono ainda um pouco envergonhado. Não encontrei a diversidade de cores que esperava, pois a maturação das folhagens estava ainda a iniciar o seu processo de deslumbramento. Os laranjas, os vermelhos, os dourados a começar a imergir na natureza. Mas fui surpreendida pela emoção dos fios invisíveis achados pelo caminho. E nessa busca do Outono, lembrei-me também muitas vezes de uma grande amiga. Helena Santos. Ela é também estas cores do Outono. E sempre que existir o Outono vou vê-la a sorrir. Ficou uma viagem por contar e tantas outras coisas belas por partilhar. Há pessoas que viverão para sempre dentro de nós. 

O quanto pode existir dentro de um simples Livro-Semente.

EMAIL: vaniakosta@gmail.com

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